Elvis Presley viajava com a filha pequena numa turnê quando o hotel em que estavam hospedados foi invadido por um maluco. Lisa Marie não lembra bem quantos anos tinha nem em que cidade estava, mas aquela imagem nunca saiu da sua cabeça. "Todo mundo corria e gritava. Era um pandemônio. Então, para me proteger, meu pai me sentou no colo dele, com uma arma de cada lado, de frente para a porta, para o caso de alguém querer entrar."
Ninguém entrou no quarto e Lisa Marie Presley, 44, viveu para contar essa e outras histórias de uma vida um tanto cinematográfica. Elvis morreu quando ela tinha 9 anos. Lisa usou todo tipo de drogas dos 13 aos 17. Casou quatro vezes, uma delas com o rei do pop, Michael Jackson, que viu morrer de um jeito bem parecido com o do pai. Teve quatro filhos e decidiu seguir a carreira de ambos os reis (e se submeter a todas as inevitáveis comparações).
Memphis, sua cidade natal, é uma zona de conforto para Lisa Marie. É lá que fica Graceland, a mansão onde cresceu, onde Elvis viveu e que é hoje a segunda casa mais visitada dos Estados Unidos. Só perde para a Casa Branca. Lisa visitou
seu antigo lar, na semana passada, durante a Elvis Week, que lembrou os 35 anos da morte de seu pai.
seu antigo lar, na semana passada, durante a Elvis Week, que lembrou os 35 anos da morte de seu pai.
Depois de muitos aplausos e gritos exaltados de "I love you, Lisa" numa espécie de palestra familiar para admiradores de Elvis, a herdeira do rei recebeu a Serafina em um dos quartos da mansão -decorado com objetos da sua infância, como um conjunto de louças de prata para bebê da Tiffany com suas iniciais.
Elvis mimava a filha única com casacos de pele e joias. Ela ganhava US$ 5 cada vez que perdia um dente. Tudo isso contra a vontade da mãe, Priscilla Presley, que queria que a filha vivesse num mundo mais real.
REI MORTO, REI POSTO
Quando os pais se separaram, em 1972, a pequena Lisa Marie se dividia entre a casa cheia de regras da mãe, em Los Angeles, e a desregrada Graceland. "Aqui, eu comia bolo de chocolate no café da manhã, no almoço e no jantar. Ficava acordada à noite. Ninguém me mandava fazer nada."
"Ele era muito, muito protetor", conta Lisa sobre o pai. "Deixava uma cadeira e uma TV no meu quarto e, se eu acordasse a qualquer hora da noite, ele estaria ali, vendo TV."
Os dois se parecem. Além das bochechas pronunciadas, o cantinho do lábio superior se levanta como o do pai-galã. Ela era fascinada por Elvis e, quando pergunto se buscou um homem como ele nos seus muitos relacionamentos, nem para para pensar.
"Absolutamente. Definitivamente. Sem dúvida. Só que eu nunca poderia encontrar alguém que se comparasse com ele. Era uma presença grande demais para mim."
Dois assuntos são proibidos na conversa com Lisa Marie: religião (ela é ligada à cientologia, polêmica doutrina seguida por famosos como Tom Cruise) e Michael Jackson (1958-2009).
FILHO: Há três anos, surgiu o boato de que o único herdeiro homem de Elvis Presley, Benjamin Keough, começaria a gravar. Nada ainda. O moço, de 19 anos, não é ansioso como o avô |
Em 1994, a princesa Presley largou o primeiro marido, Danny Keough, com quem teve dois filhos, Riley, 23, e Benjamin, 19, para ficar com o rei do pop. Vinte dias depois da separação, Lisa e Michael se casaram na República Dominicana. A mãe, Priscilla, soube do casamento pelos jornais.
"Helicópteros sobrevoavam a minha casa e eu não entendia nada. Era a imprensa tentando descobrir se ela ia aparecer. Fiquei chocada. Eu não tinha ideia", contou Priscilla à Serafina.
O primeiro beijo público do casal foi a atração de abertura do MTV Music Awards. Não demorou para que críticos apontassem que aquele era um casamento de conveniência (para ele, não para ela).
Michael Jackson havia acabado de se livrar de um processo de abuso sexual e precisava melhorar sua imagem, diziam as más línguas. A união durou 20 meses.
FILHA: Aos 23 anos, a primeira neta de Presley, Riley Keough, já desfilou nas passarelas como modelo da Dolce & Gabbana e aposta na carreira de atriz. Está filmando o novo "Mad Max" |
Em 2010, em uma entrevista à apresentadora de TV Oprah, a última na qual falaria abertamente sobre o tema "MJ", Lisa listou as semelhanças entre o pai e o ex, dizendo que Michael tinha "algo de intoxicante". "Ele era como uma droga pra mim, eu queria estar sempre perto dele. Nunca senti isso por nenhum ser humano, exceto por meu pai."
"Ele e meu pai tinham o luxo de criar em volta deles a realidade que quisessem." Os dois morreram em casa, de problemas cardíacos, após uso abusivo de remédios.
Hoje, Lisa usa luvas de pelica para se referir a Michael. "Nunca fui atraída por coisas normais. Não gosto de mediocridade. Quero o que é interessante, artístico, diferente."
"Não existe um conjunto de regras de como estar nessa vida. Você tem que fazer do seu jeito. Eu aprendi da maneira mais difícil. Mas foi necessário passar por tudo isso."
A LISA, AS BATATAS
Depois de Michael, ela ainda se casou com o ator Nicolas Cage, em 2002, no Havaí, numa união relâmpago: durou três meses ¬-bem menos que o divórcio, que só saiu em 2004.
O quarto e atual casamento aconteceu em 2006, no Japão, com seu produtor musical, Michael Lockwood. Com esse segundo Michael, Lisa teve as gêmeas Harper Vivienne Ann e Finley Aaron Love, hoje com três anos. E decidiu se mudar para o interior da Inglaterra.
Filha e Elvis, o rei do rock, e ex-mulher de Michael Jackson, Lisa Marie Presley (foto) planta batatas na Inglaterra |
Lisa Marie planta batatas, rabanetes, beterrabas e cenouras no quintal de casa. "O solo lá é incrível. Sobram vegetais e eu até distribuo para alguns fazendeiros."
No terreno fértil inglês, Lisa Marie Presley compôs as músicas do seu terceiro CD, "Storm and Grace", recém-lançado, depois de sete anos sem gravar. Para produzir o novo álbum, uma mistura de country, folk e blues, a cantora chamou T Bone Burnett, vencedor do Oscar de melhor canção pelo filme "Coração Louco" (2009) e conhecido por trabalhos com músicos como B.B. King, Roy Orbison e Elvis Costello.
A pressão por ser filha de Elvis é inevitável. "Vivo com os dois extremos. Ou as pessoas estão torcendo muito ou estão contra. É uma dicotomia interessante", ri Lisa.
A cantora decidiu ir com calma na carreira musical depois de ouvir conselhos de David Bowie. O astro inglês assistiu a um show dela e foi conversar com a moça. "Ele viu que eu era como um 'veado nos holofotes' (expressão em inglês usada para definir alguém em situação de pânico). Fui colocada em cenários enormes e não estava preparada. Ele temia que aquilo me subisse à cabeça. Disse para eu diminuir o ritmo. Acabei fazendo uma turnê por clubes pequenos que me fez muito mais feliz."
Família feliz Presley: integrantes Priscilla, Lisa Marie, 2, e Elvis, o rei do rock, em 1970 |
Hoje, ela diz que reúne uma base de fãs eclética, que vai desde alguns herdados do pai a "gays e mulheres nos seus 30, 40 anos". Agora, planeja viajar pela Europa para divulgar o novo disco. Ainda não decidiu se vem ao Brasil participar dos eventos em torno do pai: uma exposição de objetos de Elvis vindos de Graceland, que abre neste mês, no shopping Eldorado, em São Paulo, e uma série de shows pelo país, em outubro, nos quais a banda toca ao vivo enquanto Elvis canta em um telão.
Apesar de ter gravado "parcerias" com o pai, cantando em cima de uma gravação antiga, ela diz que seu show nunca faria parte de um evento em torno dele. "Seria demais até para mim." Na vida dela, isso não quer dizer pouca coisa.
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